sábado, 16 de outubro de 2010

Lembranças dos Tempos de Navegação


Lembranças dos Tempos de Navegação

I

Vento dos sonhos profundos
quantas saudades me vem
das águas mais lindas do mundo
que banham a menina Santarém

Ali peixinho que dança
na flor da verde maré
alegremente balança
nas Festas do Sairé

É lá que o boto rosado
esbanja charme, sedução
e dança todo encantado
pras moças de Alter do Chão

E quando pedalo na minha Ananin
Lembro Itaituba, Belterra e Boim
pérolas desse lindo rio abençoado
meu Tapajós, límpido, esverdeado

De proporções oceânicas
vivo lembrando daqui
as águas amazônicas
de Parintins, Juriti

Águas de Itacoatiara
Almeirim, Óbidos, Gurupá
de rio Negro Manauara
Madeira, Xingu, Juruá

Águas que levam vida
ao Tajapuru do Regatão
rio de gente querida
que trago no coração

Juro mano Vento que ninguém consegue
não se encantar com Monte Alegre
Faro, Nhamundá, Breves, Bagre, Afuá
Boa Vista, Curralinho, Curumum, Muaná

Saudades dos empurradores
que mostram pra Mauiatá
Yammas, Caterpillas, motores
de Belém, Tucuruí, Cametá...

Por ali meninas e meninos
belos como os parintintins
olham o banzeiro cristalino
das águas do rio Tocantins

Tocantins, um menino rio
cantado em verso, canção
e cujo maior desafio
é lutar contra a ambição

Eu lembro um nosso poeta a cantar
"toca Tocantins tuas águas pro mar "
o capitalismo jamais irá te matar
viva tua linda vida a nos encantar


Jetro Fagundes
Farinheiro Marajoara

Lembranças dos Tempos de Navegação



Lembranças dos Tempos de Navegação

II

Vento mano da Amazonia
do açaizeiro, peconha
é grande a emoção
relembrar em poesia
no remanso da maresia
meus tempos de navegação

Lembro os embarcadiços
no comando, passadiço
tombadilho e convés
gente que se delicia
com a mana ventania
que agita as marés

E ali, da popa à prôa
todo mundo é gente boa
ninguém pensa só em
Que ambiente de harmonia!
A linda menina maresia
sabe do que digo aqui

Nunca me esqueço dessa gente amiga
que ama o mar e a embarcação
e que apesar de ser boa de briga
não suporta contendas, intrigas
o tempo todo vive em união

Nunca esqueci na vida
essa gente tão unida
que na balsa ou catamarã
tem tendência socialista
e vive como um altruista
com sua alma cidadã

Foi ali que um anarquista
que hoje virou Batista
viu na prática a lição
na genuina coletividade
da múltipla diversidade
respeitando cidadão

E viu que a marujada
é muito bem informada
pois nas vias fluviais
acompanha informativos
nos rádios, seres vivos
nacionais, transmundiais

Eu me lembro dum navegador bacana
da casa das máquinas um condutor
amigão que além da sua alma cabana
era verdadeira enciclopédia humana
chefe Lourenço, meu menino professor

Camarada Vento mano
meu menino soberano
claro que nunca esqueci
as histórias mais belas
ditas em meio as tigelas
e pratadas de açaí

Lembro irmãos marinheiros
comandantes, cozinheiros
gente de guerra e paz
que adquire conhecimento
com você meu mano Vento
nas avenidas fluviais

Bravos manos navegantes
são cavalheiros, amantes
no navio, na terra, no lar
E muitos fazem cantigas
pras suas belas amigas
em qualquer porto, lugar

Meu menino Vento amigo companheiro
não me arrependo das coisas que fiz
e hoje vivo a vida de farinheiro
ciente que sempre fui um verdadeiro
cidadão sem nenhum medo de ser feliz


Jetro Fagundes
Farinheiro Marajoara

Lembranças dos Tempos de Navegação



Lembranças dos Tempos de Navegação

III


Vento irmão do Amazonas
confesse baixinho pra mim:
Verdade que tu te apaixonas
pelas meninas de Ananin?

Sei que você nesta vida
mesmo sem gostar de harém
tem uma "Paixão" recolhida
pela Bella morena Belém

Sei que adoras um mimo
como o Marujo teu irmão
que em cada cais de arrimo
deixa uma eterna paixão

Sabes que tuas ribeirinhas marajoaras,
tão deslumbrantes quanto as manauaras
são guerreiras nos rios Guamá, Maguari
Laguna, Parauhau, Jararaca, jaburu, Arari?

Ventos do rio Jararaca
lembram as amigas dos rios
que amam balsas e barcas
empurradores e navios

Lindas amazonas encantadas
que lá no abandono total
são julgadas, discriminadas
pela hipocrisia imoral

Eu juro lindas sumanas
pelo nosso amor fluvial
um dia daremos bananas
pra essa hipocrisia imoral

Mulheres dos mais espantosos feitos
e que merecem todo carinho, respeito
Arriscam a vida na marola, maresia
pelo precioso pão nosso de cada dia

Sumanas que pegam marola
eu sempre com emoção
vivo com minha viola
lembrando peixe, camarão

Senhoras, moças, donzelas
que faço questão de dizer
são as mulheres mais belas
que um violão pôde ver

Mulheres do rosto risonho
que pelas vias fluviais
acalentam possíveis sonhos
enfrentando até temporais

Vento eu fui maquinista marinheiro
e cá hoje vivo a vida de farinheiro
Agradeço a Deus por que na navegação
aprendi a fazer verso, prosa, canção


Jetro Fagundes
Farinheiro Marajoara



quinta-feira, 7 de outubro de 2010

JETRO FARINHEIRO


Jetro Farinheiro

Quando o sol nasce todo dia
lá esta ele com alegria
pesando nas palmas de suas mãos
a satisfação
a atitude
o objetivo

Para todo seu momento
não ter nem um lamento
só mantem no pensamento
o homem humilde e sagaz

Se as paralelas
se os lugarejos
e seus becos contassem
as vezes em que aqueles pés
firmes forcejando nas ladeiras
os pedais de sua cargueira
ou até por dentro dos lamaçais

Nada detem o velho farinheiro
de ser sempre um herdeiro
da Gloriosa Graça e Paz

Tem o tempo bem corrido
mas já deixa dividido:

No teclado do pc, poeta da vida
No violão, um instrumento de Deus
Para cada saca de farinha,
uma verdadeira rotina
de conquistar um mundo a mais



André Rodrigues