quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Geraldo Vandré. Pra Não Dizer Que Não Falei Dum Poeta


Geraldo Vandré
Pra Não Dizer Que Não Falei Dum Poeta

Um Nordestino, Paraibano Menino
Militante do Movimento Estudantil
ele simplesmente compôs um hino
cantarolado por toda Sociedade Civíl

Lá um dia esse poeta cancioneiro
depois de formado advogado doutor
continua vivendo no Rio de Janeiro
como popular compositor, cantador

o Menino praquelas sudestes bandas
conhece Carlos Lyra, grande cantor
com quem parceiriza canções "Aruanda"
também "Quem Quiser Encontrar o Amor"

Sessenta e quatro, inesquecível ano
começo das noites e dias de breus
o tal Menino Cancioneiro Paraibano
grava entre tantas "Fica Mal com Deus"

Em sessenta e seis, com povo na rua
e num Festival de Música Popular
Disparada, uma belíssima cantiga sua
consegue arrebatar o primeiro lugar

Alí, em singelo recado à quartelada
e à quem lutava contra a repressão
diz que veio do Sertão em "Disparada"
e aprendeu muito bem a "Dizer Não"

E Jair Rodrigues até se emocionava
cantando "Eu Não Canto Pra Enganar"
e o povão no Festival se levantava
completando "Posso Não Lhe Agradar"

Em Sessenta e oito, com uma voz rouca
o Menino Paraibano faz todo o povão
cantar contra a dita quartelada louca
caminhando, cantando, seguindo a canção

E Geraldo Vandré, menino inspirado
cantando, sugeria uma linda opção
contra os fuzis do regime fardado
oferecia Revolucionária Flor na Mão

Cantiga pacifista das mais serenas
a mais libertária que já se produziu,
Vandré, utilizando dois acordes apenas,
respondia às baionetas, ao fuzil

Sem as complicadas notas dissonantes
essa canção se tornou a predileção
principalmente de cantadores iniciantes
que abraçam um companheiro Violão

Em Mi Menor, Ré Maior, facilitados
o Violão de iniciante ou profissional
fez com que essa canção por todo lado
fosse cantada como um Hino Nacional

E a letra do Paraibano Cancioneiro
dizendo que todos nós somos iguais
era cantada por inúmeros companheiros
inclusive lá nas Bases Pastorais

Nelson Rodrigues disse com clareza
em artigo que poucas vezes ele viu
uma Marselhesa tão pouco Marselhesa
num solo violentado, nosso Brasil

Embora não tenha sido a vencedora
do Festival Internacional da Canção
essa Cantiga por ser tão arrebatadora
foi a Primeira Colocada para o Povão

É claro que essa cantoria de vida
cantada inclusive em missas e funerais
acabou sendo censurada, proibida
pela implacável fúria dos generais

Nos tempos de selvageria, violência
exílio, porão, torturadores, prisão...
esse Hino incitava o Povo à Resistência
Caminhando, Cantando, Seguindo a Canção

Canção que além de ter bela melodia
e seus versos de fáceis memorização
ah, é um tratado de verdadeira Poesia
e na linguagem falada pela multidão

Grande Vandré Companheiro, Camarada
a tua cantiga de luta, de encorajar
entoada por Estudante Cara Pintada
também foi o Hino das Diretas Já

Aqueles que realmente amam a poesia
sabem que poeta poema pra quem quiser.
Sem compromisso com Igreja, Ideologia...
Canta pra flor, pro amor, pra mulher...

Um poeta cantoreia com a Consciência
ética plena do seu soberano ser
e deve ter irrestrita independência
pra agir de acordo com o seu querer

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores
simplesmente quer queiram, quer não
além de derrubar golpistas ditadores
ainda incomoda o latifundio, o patrão

Ah, todas e Todos que amam a magia
da Cantoria de Amor, Paz, Indignação
torcem para que Vandré retorne um dia
Pois tem lugar cativo em cada coração

Jetro Fagundes
Farinheiro Marajoara

7 comentários:

Jetro Fagundes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jetro Fagundes disse...

À Josias Fagundes


E eu me lembro do melhor goleiro
que o Brasil ja viu, se chamava Barbosa. O cara morreu sem ter sido
perdoado. Barbosa foi responsabilizado pela derrota do Brasil na Copa de 50. E ele nem falhou tanto assim com a imprensa da época falava.
Vandré não consegue ser perdoado, mas o seu Canto de Vida, na Canção Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, ah, esse Canto se tornou um Hino, e esse Hino derrubou a ditadura militar.
Se é verdade que Simonal falou um dia que a Esquerda nunca anistia ninguém, tou nem aí pra isso.
Pros Ventos Marajoaras, Pros Ventos da Poesia, Vandré é lindo,
é poeta... E poeta faz da vida o que bem entende. Poeta não vem ao mundo pra servir uma Ideologia ou um credo religioso.
Poeta escreve o que a alma lhe manda e a Consciência determina.

Taí meu mano Josias, é pra tu o poema. Tu meu mano querido, o irmão
que sempre invejei pela valentia, coragem, sabedoria... Saudades de tu. Sempre que escrevo coisas assim
tu me vens à memoria.


Jetro Fagundes
e já nem sou mais marinheiro,
virei Farinheiro

Kainha Brito disse...

Muito linda sua homenagem amigo Poeta, faz jus ao grande cantor Geraldo Vandré um poeta maravilhoso
Essa música pra não dizer que não Falei das flores foi tema de uma Peça de teatro que apresentei aqui
Em imperatriz e marcou muito em Minha vida. Essa música, mostra Uma dura realidade de séculos era Cantada como um hino nacionale e Olha que ele ainda sofreu na pele Os ditames tresloucados da sensura Parabéns bjos de luz

disse...

Uma homenagem muito especial feita para esse poeta inesquecível.
Um poema completo!! Dele daria pra escrever um livro!! Essa homenagem justa e merecida, faz com que Geraldo Vandré permaneça em nossos corações para sempre!! Obrigada por nos proporcionar uma leitura encantadora!! A você eu tiro o meu chapéu!!

Bjs, Lú

Raquel disse...

parabéns ,mais uma vez vc arrasou com seus versos cheios de emoção,sentimentos puros e lindos lembrando a história de Geraldo Vandré.Émuito bom vir aq.bjss

disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
disse...

querido POETA JETRO...
Esse blog é show. Com textos riquíssimos e instrutivos. Parabéns poeta!!