Trinta anos e um anos sem Quintino Lira
Ao Vento que Sopra do Marajó
Quintino Lira, o Lampião Paraense
Guerrilheiro Libertário
Dizem que ele era cearense
Banda do Sertão de Lampião
Outros, que era um paraense
Só sei que defendia sem chão
Ativo vendedor ambulante
De tudo na vida aprendeu
Lembrava caixeiro viajante
Na estrada Bragança-Viseu
Em vilas, lugares povoados
Ele também do trecho, peão
Via os moradores isolados
Ao longo da sua circulação
Andando de cidade, cidade
Aquele ambulante e peão
Soube fazer boas amizades
Com a gente pobre da região
Homem honesto de verdade
Sujeito batalhador, e de bem
Um dia rumou pra localidade
De Pau-de-Remo, em Ourém
E em Ourém, Pau-de-Remo
Sujeito pra lá de batalhador
Consegue comprar terreno
De certo posseiro agricultor
Era Quintino, com bravura
Homem de pura disposição
Quieto na sua agricultura
E também na vida de peão
Um trabalhador rural suado
Juntando tostão por tostão
Pra ter o chão documentado
Com título de posse na mão
Trabalhador rural verdadeiro
Um dia, ou seu querido chão
Foi cobiçado por forasteiro
Movido da peste da ambição
Além de ter o chão cobiçado
Por um paranaense patrão
Ele passou a ser ameaçado
Inclusive de física agressão
E com documentação grilada
Patrão consegue se apossar
Indenizando com quase nada
O verdadeiro dono do lugar
Conta-se que o sujeito grileiro
Indenizou chão do agricultor
Dando ninharia de dinheiro
Dez por cento do real valor
Quando pistoleiro é contratado
Pra assassinar o trabalhador
Este, sem querer ser matado
Mata pistoleiro e contratador
Ao matar grileiro contratante
Que tomou seu pedaço de chão
Quintino Lira, daí em diante
Vai viver vida de perseguição
Vivendo a vida de procurado
No nordeste da nossa região
Ele acaba sendo convocado
Pra ser defensor de sem chão
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Auto denominado gatilheiro
Justiceiro e público defensor
Vai ser protetor de posseiros
O pessoal rural trabalhador
Região das mais assassinas
Latifundiária gleba Cidapar
Quintino convoca, aglutina
Gente injustiçada pra lutar
E depois de declarar guerra
Ao parcial aparelho policial
Ele mesmo distribui terras
Pra colono trabalhador rural
Gatilheiro amigo de colono
Trabalhador rural sem chão
Quintino Lira tirava o sono
Dos latifundiários da região
Inimigo do aparelho de farda
Que protegia vil contratador
Quintino usa sua espingarda
Em benefício do trabalhador
Inimigo número um de grileiro
Era guerreador sem titubear
Defendia despossuído roceiro
Conclamava o povo a lutar
No combate a patrão grileiro
Ele sabia bem se locomover
Usando tática de guerrilheiro
No modo de fazer acontecer
Guerreiro valente de verdade
Apesar da humildade de ser
era dado a algumas vaidades
Mas sem pretender aparecer
Mas mesmo dado a vaidade
Do bigode, no jeito comum
Era um poço de ingenuidade
Pois confiava em qualquer um
Quintino,poço de ingenuidade
Descuidado entre o pessoal
Acabou traído por amizades
Agentes do aparelho policial
Numa certa noite traiçoeira
O gatilheiro Quintino partiu
Vítima duma sanha pistoleira
De um bando sempre serviu
A mando de grupo fazendeiro
Da famigerada Gleba Cidapar
Quintino Lira, o gatilheiro
É morto pela polícia militar
Morto covardemente matado
Da maneira traiçoeira brutal
Teve indefeso corpo violado
Pelo aparelho militar policial
Herói covardemente matado
A pedido dos donos da região
Foi às escondidas enterrado
Longe dos amigos, do povão
Longe de ser um bandoleiro
Como uns e outros patrões
Quintino foi um guerrilheiro
E de libertárias convicções
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Um guerreiro das magnitudes
Tão inimigo de doutor patrão
Lembrava, às vezes, Robin Hood
Ajudando carente população
Enquanto houver despossuídos
Em Ourém, Santa Luzia, Acará
Quintino jamais será esquecido
Por algum Sem Terra no Pará
Quintino ainda é lembrado
Por muita gente sem chão
Vítima de documento grilado
Pelo latifundiário patrão
Companheiro considerado
Verdadeiro herói na região
Quintino sempre será amado
Por suas ações de libertação
Ele é o povo conscientizado
Recheado da real convicção
Que muitos arames farpados
São fincados à base de ambição
Autêntico valente guerrilheiro
Por pensar em prol do bem comum
Foi dos fazendeiros, pistoleiros
O grande inimigo número um
Quintino é o irmão injustiçado
Vítima da nojenta CIDAPAR
No Pará, o estado estuprado
Nos governos do regime militar
Irmão de lavrador roceiro
Foi assassinado às traições
Por latifundiários bandoleiros
Os inimigos das plantações
Viva Quintino, irmão valente
Guerreiro das ousadas ações
Irmão que ta sempre presente
Nas libertárias celebrações
Quintino é o cabo duma enxada
É um roceiro com o seu facão
Latifúndio é terra concentrada
Uma maldição na nossa nação
Viva o guerreiro Quintino Lira
Viva o irmão Trabalhador Rural
Que vai vencendo a mentira
De um latifúndio vilão imoral
Quintino é a prosa e o verso
Revoltados contra o que vê
Enquanto o latifúndio perverso
Grila terras, mata o viver
Quintino é a ousada bravura
De uma Libertária Pastoral
Que sabe o dizer da Escritura:
Terra é um dom divinal
Viva Quintino, o companheiro
Que nesta parauara região
Lembrava Antonio Conselheiro
Herói de Canudos do Sertão
Quinto cumpriu o seu destino
Na região mais violenta do país
E lembro: Terra é um dom divino
É a Santa Bíblia que nos diz
Jetro Fagundes
Farinheiro do Marajó e de Ananin